O
Despertador dos Sonhos
Noite
escura, sem céu nem estrelas. Uma noite de ardentia. Estava tremendo. O que
seria desta vez? A resposta veio do fundo. Uma enorme baleia, com o corpo todo
iluminado, passava exatamente sob o barco, quase tocando-lhe o fundo. Podia ser
sua descomunal cauda, de envergadura talvez igual ao comprimento do meu barco,
passando por baixo, de um lado, enquanto do outro, seguiam o corpo e a
cabeça. Emergiu-se nas aguas deixando a
cauda em cima da água por causa da sua grandeza.
Com
o seu movimento verde fosforescente iluminando a noite, nem me tocou, e
iluminada seguiu em frente. Com as mãos agarradas na borda, estava
completamente paralisado por tão impressionante espetáculo— belo e assustador
ao mesmo tempo.
Acompanhava
com os olhos e a respiração seu caminho sob a superfície. Manobrou e voltou-se
de novo, e, mesmo maravilhado com o que via, não tive a menor dúvida: voei para
dentro, fechei a porta e todos os respiros, e fiquei aguardando, deitado, com
as mãos no teto, pronto para o golpe. Suavemente tocou o leme e passou a
empurrar o barco, que ficou atravessado a sua frente. Eu procurava imaginar o
que ela queria.
Pois,
o bicho era como um despertador das noites, sensação estranha que nunca tinha
visto antes, até me parecia que o meu mundo terminasse ali. Entretanto o
momento era in esquecível, mas o medo era ainda maior pois o sonho é o
despertador da imaginação.
Nozinha
Fernandes